Sinopse: Anne Frank relata em seu diário situações inimagináveis, em que até um ovo pode se tornar um presente de aniversário. Eram dias sem escolhas. Mesmo confinada, ela descobre o amor e percebe as mudanças no corpo e na alma. Devorava livros, fazia cursos por correspondência e esperava retomar os estudos logo que a guerra acabasse. Ela queria ser jornalista e escritora. Conseguiu se tornar escritora famosa, autora deste best-seller.

"O Diário de Anne Frank" é um dos livros mais lidos do mundo. O relato tocante e impressionante das atrocidades e dos horrores cometidos contra os judeus faz deste livro um precioso documento e uma das obras mais importantes do século. 

Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas me pergunto: algum dia escreverei coisa importante?

Desde a minha adolescência sempre tive vontade de ler este livro, mas por motivos que não me recordo, sempre fui adiando, hoje fico feliz com isto, acredito que fiz a leitura no momento certo, e com maturidade para sentir todas as nuances que ele nos proporciona. 

Todo mundo deveria ler "O Diário de Anne Frank", não só pela sua importância histórica, mas para tornar-se um ser humano melhor, porque tenha certeza que após a leitura não será mais a mesma pessoa.

Anne era uma criança/adolescente que em meio aos conflitos naturais de todo adolescente, tentava sobreviver a um dos períodos mais sombrios da história mundial, e mesmo com toda a dor envolvida em tudo que estava vivendo, ela ainda conseguia na maioria do tempo, mostrar com uma certa leveza e até bom humor todo  aquele o sofrimento.. 

É interessante acompanharmos a vida, através dos escritos, de Anne, que inicialmente parece uma adolescente comum, e eu digo que parece, pois é impressionante o crescimento dela assim que se vê presa no Anexo. A maturidade com que ela observa as pessoas, analisa sentimentos e até a si mesmo, nos faz desacreditar que ela tem apenas 13/14 anos. 

Anne Frank era a frente do seu tempo, e isto fica nítido em várias passagens do livro. Quando ela fala com um certo desprezo da falta de ambições da mãe e da irmã mais velha sobre a vida, e deixa claro que não quer ser como elas, que pretende viajar pelo mundo, estudar, ser jornalista e escrever um grande livro. Todos estes anseios, sendo uma menina, em pleno ano de 1944, em um cenário de guerra, em um contexto de apagamento e que as mulheres eram ainda mais vulneráveis, principalmente as judias, surpreende muito. 

O Diário de Anne Frank tem uma tristeza a cada página lida, pois sabemos qual foi o desfecho de Anne, então nos deparamos com um misto de desesperança, não dela, mas nosso, em perceber que todos esses sonhos e anseios não se realizarão. Anne não sobreviverá. E a esperança de Anne a cada página nos entristece e nos conecta ainda mais com tudo que está sendo dito e vivido por ela. 

Sei que sou capaz de escrever bem, alguns dos meus contos são bons, as minhas descrições do Anexo tem humor, há passagens eloquentes no meu diário, mas... ainda não provei que tenho, de fato, talento.

A narrativa do livro é envolvente, e mesmo com toda dor e caos que está vivendo com sua família e o outros membros escondidos no Anexo, Anne tem uma  sutileza ao descrever estes momentos, que talvez um leitor mais desligado pode até mesmo não captar o quão dolorido era tudo aquilo. 

Sua personalidade é uma das coisas que mais ganham destaque ao meu ver, era uma menina inteligente, astuta, independente, com uma sagacidade que deixava clara sua vontade de viver, e acho que justamente por ser tudo isto, e ter vivido tão pouco e com tantas privações, ler o livro se torna extremamente difícil. 

Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta. Mas me pergunto: algum dia escreverei coisa importante?

Inicialmente Anne escrevia para si, mas com o tempo ela entende que seu diário será a base para o livro que supostamente escreverá após o fim da guerra, ela o chamaria de "O Anexo".  E a partir deste momento, percebe-se uma pequena mudança de escrita dela, o que já tinha muito do cotidiano, começa a ter ainda mais detalhes. Como o que eles comiam, como tomavam banho, como era o cotidiano e a personalidade detalhada de todas as pessoas que estavam escondidas. Anne não era de fácil convívio, tinha uma personalidade que dificilmente baixava a cabeça, e por isso sofria, mesmo que não deixando transparecer para as pessoas da casa. 

Seu diário fala muito do que acontecia na rotina, mas também se aprofunda nos sentimentos da menina. É interessante que ela trata o diário como a amiga que não tem, tanto que o chama de "Kitty", e isso apenas evidencia sua solidão e sua carência. Mesmo tendo sua irmã na casa, a diferença de personalidade das duas traz este afastamento, e como já mencionei, Anne tinha um temperamento difícil, em alguns momentos ela mesma evidencia que sabe o quanto precisa mudar para se adequar a uma situação que não favorece ninguém ali. 

Sou eu mesma o meu crítico mais severo. 

A forma como ela destaca todas as pessoas do anexo é muito interessante, através dos olhos de Anne todos tem seus momentos. Definitivamente fica claro que conviver naquelas condições com pessoas que não eram de seu convívio diário, e com personalidades tão diferentes era um desafio, e conforme o tempo vai passando fica claro que o cansaço e a falta de esperança começam a mudar a forma com que Anne mostra suas perspectivas, é sutil, mas pesaroso. 


Não é uma leitura fácil, afinal sabemos dos horrores do Holocausto, de tudo que foi envolvido na Segunda Guerra Mundial, e principalmente sabemos que o único sobrevivente do Anexo foi o Otto Frank, o pai de Anne, então ver essa menina descobrindo sobre seus sentimentos, sobre seu corpo, sobre parte da sua pequena vida trancada em um anexo, sabendo que ela não sobreviverá é muito difícil e triste de acompanhar, mas é aquele tipo de leitura necessária que nos faz mensurar as necessidades e prioridades da vida. Não tem sequer uma passagem do livro que a gente não se questione como é privilegiado e como pessoas incríveis perderam a vida por causa de uma seita de lunáticos. 
Quero continuar a viver depois de minha morte. E por isso estou tão grata a Deus que me deu a possibilidade de desenvolver  o meu espírito e de poder escrever para exprimir o que em mim vive.

O Diário de Anne Frank deveria ser leitura obrigatória em algum momento da vida, talvez muitas das nossas necessidades e importâncias seriam revistas. Que bom que o pai dela lutou para que seu livro fosse publicado, pois hoje temos uma obra que aborda resiliência, esperança, luta pela sobrevivência, amor, saudade, gratidão e muitos outros sentimentos de forma profunda e humanizada, escrita por uma menina dos seus 13 aos 15 anos. Simplesmente incrível! 

Escrevi tudo num caos, algumas coisas sem sentido, e cada vez mais duvido que um dia haja alguém interessado nos disparates que escrevo.

Mal, Anne Frank sabia, que 79 anos depois que escreveu sua última página, o mundo todo segue interessado no que ela escreveu, e não Anne, não são disparates. Fizeste um lindo trabalho... 

Nota: ♥♥♥♥
Nome: O Diário de Anne Frank
Autora: Anne Frank
Editora: Camelot (2021)
Capa comum: 208 páginas
Gênero: Biografia, Autobiografia, Narrativa pessoal
Literatura: Estrangeira

Annelies Marie Frank nasceu no dia 12 de junho de 1929 em Frankfurt, na Alemanha. Seus pais eram Otto e Edith. Tinha uma irmã mais velha chamada Margot. Em 1934, a família se mudou para Amsterdã, na Holanda. No dia 6 de julho de 1942, foram todos para o esconderijo no anexo secreto, onde foram descobertos em agosto de 1944. Anne Frank morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen, na cidade de Celle, perto de Hanover, na Alemanha, provavelmente em 12 de março de 1945.